O Pensionato

Eram 13. Cada uma em seu canto, com suas roupas, sapatos, necessidades básicas e sonhos. Cada uma trazia no olhar um sentimento diferente. Vinham de lugares, estradas, infâncias e costumes bem diferentes. Uma apaixonada, a outra angustiada, uma cozinhava, outra sempre lavando as roupas brancas no tanque, tinham aquelas que fumavam, aquelas que ficavam no computador boa parte do tempo. Levantavam cedo, enfrentavam um dia de trabalho, algumas faziam o que queriam, outras tentavam apenas juntar o que quer que fosse para transformar aquele sonho em realidade. Não se sabe se eram sinceras... Chegavam à noite e conversavam umas com as outras em tom geralmente baixo, se dividiam em grupos de três ou quatro, não se misturavam, apesar da convivência aparentemente tranquila.

Ela não estava a fim de se enturmar, acabava de tomar uma decisão que mudaria sua vida para sempre. Não se sabe bem em que direção, mas estava no início de tudo. Seus receios faziam com que se acolhesse, criando um apego àquela cama, ao cubículo em que "morou" por não mais que um mês. Conviveu bem com as outras. Era educada e dava sorrisos discretos. Aquele sorriso que se dá apenas por conveniência, por se tratar de uma pessoa simpática, apesar de tímida e conservada. Não era um bom momento para criar laços. Não desse tipo. Pensamentos inquietantes visitavam sua mente o tempo todo.

E, assim, inquieta e inconstante naquele momento, apenas observava cada uma delas. Seu jeito, personalidade, maneira de se vestir. Muita coisa chamou-lhe a atenção. Outras tantas provavelmente não pode captar. Mas em muito lhe tocou aquela forma de vida. Aquela busca persistente pelo que se deseja, não importando por quais meios e situações. Com certeza, lhe serviu como exemplo para essa nova vida. E, das 13, apenas 12 restaram... até o dia em que novos sonhos ocuparam aquele cubículo e se deitaram naquela cama.